1) ESCOLHA DO TEMA:
Para se obter um bom roteiro, deve-se ter muito cuidado com a escolha do tema,
nunca esquecendo que uma das funções básicas de uma história em quadrinhos é o
entretenimento.
Uma vez escolhido o tema, é importante manter-se nele, sempre procurando
extrair o máximo da ideia e atingir o mais diretamente possível o público-alvo.
Para as histórias infantis, dê preferência a temas agradáveis como: pescaria,
piqueniques e sobretudo, fatos do cotidiano, de fácil identificação pelo
leitor, embora uma aventura ou uma história de ficção com bastante fantasia,
tenha a vantagem de estimular a imaginação do leitor.
Teorias, lendas, fatos reais e históricos também são temas ótimos e sempre
atuais para a criação de um roteiro, tanto infantil como juvenil.
Lembre-se que um tema pode ser desenvolvido de várias maneiras, portanto, mesmo
usando um tema aparentemente desgastado, pode se obter um bom resultado,
bastando apenas dar-lhe " roupagem nova ", procurando usá-lo com
originalidade, hoje mais do que nunca, ponto fundamental para o possível
sucesso de um roteiro.
Nas histórias infantis, evite violência, sexo, religião, política,
discriminação racial, diferenças sociais, defeitos físicos e vícios como: fumo,
bebidas, jogos ( corrida de cavalo, baralho, etc. ). Sempre que for desenvolvido
um tema onde haja roubo, trapaça ou algo assim, lembre-se de que tudo deve
ocorrer de forma mais engraçada possível, tornando o bandido sempre mais
ridículo do que ameaçador.
Já nas histórias mais sérias, o bandido deve ser o mais perigoso possível, pois
isso ajudará a valorizar a atuação do herói, que fatalmente vencerá no final.
2) DA IDEIA AO ROTEIRO:
A forma mais comum usada pelos roteiristas é a de inicialmente escrever uma
sinopse da história imaginada, ( texto corrido, narrando a história, sem
diálogos ) e só então, dividi-la em páginas quadrinizadas, descrevendo a ação,
( que o desenhista posteriormente transformará em imagens ) e transformando o
texto corrido em diálogos dos personagens.
EXEMPLO:
Cena 1
AÇÃO
O Homem-Aranha está saltando de um prédio para o outro.
A cena é noturna e ao fundo, sobre um telhado, pode-se ver a silhueta de uma
mulher.
TEXTOS
Homem-Aranha- ( pensando ) Preciso achar a Hellen antes que seja tarde!
"Ação": serve apenas como "guia" para o desenhista e o
"textos": são os balões propriamente ditos, que aparecerão na
história finalizada.
É muito importante ter em mente que o desenho da cena deve sempre complementar
o texto, nunca repeti-lo.
Exemplo: " Conan desfere um golpe de espada na gigantesca
serpente"... e a cena mostra exatamente o Conan desferindo um golpe de
espada na gigantesca serpente. O texto se torna redundante e dispensável. Nesse
caso, o aconselhável é optar pela cena muda, enriquecida, se for o caso, por
uma onomatopeia.
Se você tem uma certa habilidade para desenhar, poderá substituir a
"ação", rascunhando os personagens nas páginas, com seus respectivos
textos, como se fosse a história em quadrinhos já pronta ( esses rascunhos
servirão de guia para o desenhista que vai "passá-lo a limpo" ).
3) ALGUNS "MACETES" PARA FACILITAR O SEU TRABALHO
Um roteirista tem a obrigação de manter-se sempre atualizado: ir ao cinema,
assistir televisão e, sobretudo, ler, ler muito (todo tipo de leitura é
importante, pois uma frase, ou até mesmo uma simples palavra, pode sugerir o
tema para uma história). Mas isso deve ser feito com muita observação,
procurando analisar a forma como tudo foi realizado.
Ao ler um conto, uma história em quadrinhos ou assistir um filme qualquer,
procure analisar o seu conteúdo. Esqueça o tema específico e analise apenas a
forma como tudo foi desenvolvido.
Experimente pegar uma história e substituir seus valores por outros, mantendo
apenas a ideia central e o seu desenvolvimento. Por exemplo: transporte uma
história passada no oeste, para o espaço. Este sistema já foi usado várias
vezes pelo cinema ( Os Sete Samurais = Sete Homens e um Destino, Matar ou
Morrer= Comando Titânio).
Se o seu roteiro só vai ficar interessante lá pelo meio, você pode usar o
sistema "flash black", para "capturar" o interesse do
leitor logo nas primeiras páginas, ou seja: mostre algo que vai acontecer ao
personagem, na sequência de maior interesse da história e depois vá para o
início mostrando como ele chegou àquela situação.
Por exemplo: A história começa com o herói preso numa armadilha, enquanto ele
busca um jeito de se saltar, relembra como foi que tudo começou ... aí então,
você pode, tranquilamente, recuar no tempo e contar a história desde o
princípio, pois o leitor já estará "capturado" pela curiosidade de saber
como o herói foi parar ali. Você pode também começar a história pelo final (
com bastante ação ) de uma outra aventura, do mesmo personagem que você vai
utilizar, mostrando do que ele é capaz. Só então comece a nova aventura ...
isso deixará o leitor ansioso para ver como o herói atuará dessa vez.
Esse sistema foi utilizado em roteiros para o cinema, nas séries de James Bond
e Indiana Jones e até no Batman, onde o herói faz uma rápida aparição logo no
começo do filme, só pro público "sentir o gostinho" do que está por
vir.
Em resumo: Histórias em quadrinhos, livros, filmes e novelas com histórias que
custam a deslanchar, correm o risco de serem "postas de lado" antes
de seu deslanche.
O roteiro é bom quando:
Você lê uma história em quadrinhos, virando cada página com interesse no que
vai acontecer, assiste a um filme sem sentir a hora passar, vê uma novela e
fica aguardando pelo capítulo seguinte, lê um livro, sem conseguir parar.
Isso significa que o autor conseguiu capturar o seu interesse.
4) OS PERSONAGENS
É de extrema importância que o personagem aja sempre da sua forma habitual,
portanto, ao escolher aqueles que utilizará no seu roteiro, é aconselhável anotar
a personalidade , pois, por mais que você os conheça, poderá esquecer de algum
detalhe importante de sua personalidade.
Abaixo temos 4 pontos que (GERALMENTE) são seguidos, não os
veja necessariamente como regras:
*O protagonista
Ao eleger o personagem principal, lembre-se: ele geralmente tem "alma
infantil", é ingênuo, puro de coração, valente e fiel aos amigos. Não
desiste nunca e nem teme perigo algum. Exemplos: Goku, Yuusuke Urameshi (YuYu
Hakusho), Ruffy, Naruto etc. E ter um visual impactante é fundamental.
* Objetivos
Nos melhores mangás shonen, o herói é sempre movido por uma grande aspiração,
que lhe possibilita mostrar sua determinação e seu valor. Ele quer se tornar o
guerreiro mais poderoso do Universo? O maior pirata? O melhor jogador de
basquete? Ou o melhor padeiro? (Acredite, isso existe!)
*Os amigos
Uma lição presente em todos os mangás é o valor da amizade. O que seria de Goku
sem Kuririn? Os amigos complementam a personalidade do herói e enriquecem a
história. Eles podem até competir entre si, mas é sempre quando atuam lado a
lado que superam os maiores desafios.
*O rival
Nas pesquisas de popularidade das principais revistas, os rivais aparecem
sempre no topo. Dois bons exemplos são Vegeta e Sasuke, que fazem Goku e
Naruto, respectivamente, darem o melhor de si a todo momento. Um grande rival é
quase tão importante quanto um protagonista carismático.5. O toque do
autor
Mas receita nenhuma, por mais tradicional ou inovadora que seja, garante a
qualidade ou o sucesso da história. Afinal, cada balão é preenchido com as
idéias do autor e, no final das contas, é o talento dele, pessoal e
intransferível, que dá sabor à trama e, se for bem-sucedido, cria os clássicos.
5) "GAGS"
Sempre que possível, procure "temperar" a história com
"gags" - aquelas piadas ocasionais que você encontra comumente no
decorrer das histórias em quadrinhos infantis (ou nas histórias do
Homem-Aranha) e que, apesar de pouco (ou nada) terem a ver com o tema central,
ajudam a enriquecer e principalmente a tornar a história mais engraçada.
A gag pode ser um simples trocadilho no texto, uma piada visual ou uma
seqüência.
Nos temas mais sérios, (aventura, mistério) a gag é fundamental para
"quebrar" a seriedade do roteiro, tornando-ao mais agradável. Por
exemplo, as histórias do Mickey, sem as gags do Pateta, seriam fatalmente
histórias sérias.
Sátiras de romances clássicos ou fatos históricos, nada mais são que os
próprios romances ou fatos originais com a soma de gags no decorrer da
história.
Veja a importância da gag nos desenhos animados de Tom & Jerry ou do
Bip-Bip, o Papa-léguas, por exemplo, o tema central é praticamente o mesmo,
mudando apenas as gags.
Nas comédias pastelão o tema central era extremamente simplese era justamente
através da sucessão de gags que ele era alongado e enriquecido.
Tal é a importância da gag que nos estúdios de Walt Disney, existem pessoas
exclusivamente para criar as gags dos desenhos animados.
6) TORNANDO A LEITURA AGRADÁVEL
É bom lembrar que o texto para funcionar, precisa ser claro, curto, gostoso e,
sempre que possível, ter uma dose certa de humor (isso serve pra qualquer
tema).
Procure sempre "falar" muito claro, para ser compreendido pelo maior
número de pessoas possível, independentemente do público alvo. Evite deixar o
roteiro complicado demais, com excesso de elementos, detalhes, etc...
Uma história confusa, que exija certa "ginástica mental", pode ser
rejeitada logo de cara pelo leitor.
Evite que a história chegue ao final com necessidade de grandes explicações .
A boa história vai se complicando e se resolvendo no seu desenrolar, com
naturalidade, não necessitando mais do que um balão ou uma piada, no final.
O excesso de textos (nos balões) "fecha" o apetite pela leitura,
portanto,quando houver necessidade de maior exposição de um assunto, vale
aumentar a quantidade de quadrinhos e balões, isso evitará a "poluição
visual".
7) O FINAL
Talvez esse seja o ponto que determina o sucesso ou não de um roteiro, portanto
tenha sempre em mente que, quanto melhor for a história, melhor ainda terá que
ser o seu final.
Procure desenvolver o seu roteiro, reservando para o desfecho algo de grande
impacto, que pegue o leitor de surpresa.
Evite problemas fáceis demais para o personagem resolver. Quanto mais difícil o
problema, mais criativa será (e terá que ser) a solução. Lembre-se: a história
perde totalmente o seu valor quando o leitor consegue adivinhar o seu final. O
argumentista tem a obrigação de ser mais inteligente que o leitor.
Mas, como o argumentista vai criar um problema suficientemente complicado, sem
correr o risco dele próprio ficar sem solução e acabar criando um final pouco
convincente, para não perder a história?
É simples! Partindo do final, ou seja, partindo do mistério já solucionado, do
problema já resolvido, do crime desvendado.
Daí, o argumentista vai criar toda a trama que levará àquela solução, e é nesta
trama que ele terá de ser hábil, complicando ao máximo a investigação,
cercando-a de elementos (de preferência que tenham a ver com o caso), que
confundem o leitor, mas sem nunca esquecer de que tudo deverá levar a solução
final de forma convincente e sem "furos". Lembre-se : uma história em
quadrinhos pode ser lida várias vezes, portanto se houver alguma falha, o
leitor acabará por percebê-la comprometendo todo o seu roteiro ... e seu autor.
Em resumo: a solução final nas mãos é um trunfo que o argumentista poderá usar
para "brincar" com o leitor, sem correr o risco de decepcioná-lo.
Alfred Hitchcock, o mestre do suspense, dizia: "Deixem a plateia fazer
parte do trabalho. Se vocês explicarem cada coisa, uma a uma , não haverá
mistério".
Isto permite que o expectador de seus filmes, se torne um detetive à procura da
solução. Com este sistema, pode se obter ótimos resultados também nas histórias
em quadrinhos.
Tal é a importância do final de uma história que costuma-se dizer: "O
final de uma história em quadrinhos, (principalmente se for a última da
revista) poderá determinar se o leitor vai ou não comprar a próxima
edição".
O leitor deve fechar a revista satisfeito.
CUIDADO COM O "DEPOIS DO FIM"
Após o caso resolvido, o fato encerrado, evite se prolongar com falas ou cenas,
pois elas serão inúteis. Lembre-se, se o interesse do leitor terminou com o
final da história, o que vier depois, só vai atrapalhar.
Adaptado do site: http://dpzine.forumeiros.com/t87-escrevendo-roteiros-para-quadrinhos-dicas-manhas-e-tecnicas
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